Caio Bonfim conquista ouro e faz história no Mundial com vitória nos 20 km da marcha atlética

Klewder Silva
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Caio Bonfim conquista ouro e faz história no Mundial com vitória nos 20 km da marcha atlética

Ouro histórico nos 20 km e noite inesquecível em Tóquio

Por Klewder — A madrugada de sábado no Brasil trouxe uma cena que o atletismo nacional esperava há décadas: Caio Bonfim cruzando a linha de chegada, emocionado, como campeão mundial dos 20 km da marcha atlética. Em Tóquio, já na noite de sexta-feira, o brasiliense de 34 anos fechou a prova em 1h18min35s e colocou o país no topo do pódio da modalidade pela primeira vez em um Mundial de Atletismo.

O resultado coroou uma prova madura, controlada no ritmo e precisa nas decisões. Caio resistiu aos ataques na parte final do percurso e abriu a diferença decisiva nos metros derradeiros. O chinês Zhaozhao Wang terminou oito segundos atrás (1h18min43s), com o espanhol Paul McGrath em terceiro (1h18min45s). A cerimônia de premiação aconteceu do lado de fora do Estádio Nacional do Japão, em Tóquio, na manhã local deste sábado, e marcou o ponto alto da campanha brasileira na competição.

Mais que um ouro, a vitória amplia um currículo que já era histórico. Caio se torna o atleta brasileiro mais premiado em Mundiais de Atletismo: agora são quatro medalhas em oito participações. Ele tinha bronze nos 20 km em Londres-2017 e em Budapeste-2023, somou a prata nos 35 km em 12 de setembro nesta mesma edição de Tóquio e, agora, alcança o ouro nos 20 km. A conquista vem pouco mais de um ano depois da medalha de prata nos 20 km dos Jogos de Paris-2024, prova da consistência e da longevidade do seu alto nível.

A caminhada até o topo não foi rápida, nem simples. Formado no projeto de Sobradinho (CASO-DF), no Distrito Federal, Caio construiu resultado a resultado, temporada a temporada, até se firmar entre os melhores do mundo. Em um evento técnico e implacável como a marcha atlética — em que qualquer erro de técnica pode virar punição — manter-se competitivo por tantos anos é tão admirável quanto a própria medalha.

Dentro da prova, a estratégia fez diferença. O bloco da frente se manteve compacto durante boa parte do percurso, mas a seleção natural dos últimos quilômetros separou quem ainda tinha perna de quem estava no limite. Caio soube dosar a pressão, respondeu às mudanças de ritmo e, quando a oportunidade apareceu, apertou o passo o suficiente para abrir a margem segura até a faixa final. Em Mundiais, onde a leitura de corrida pesa tanto quanto o preparo físico, esse tipo de decisão define pódios.

Em Tóquio, o Brasil também teve outros nomes na disputa dos 20 km masculino. Matheus Corrêa cruzou em 17º, com 1h21min04s, e Max Batista completou em 42º, com 1h27min34s. Entre as mulheres, Viviane Lyra concluiu em 12º (1h29min02s), Gabriele Muniz terminou em 32º (1h34min28s), e Érica Sena abandonou após o terceiro quilômetro. A presença de uma equipe numerosa ajuda a explicar por que a marcha atlética é hoje uma das frentes mais competitivas do atletismo brasileiro no cenário internacional.

Se o ouro nos 20 km chama atenção, a prata conquistada por Caio nos 35 km no início do Mundial diz ainda mais sobre sua versatilidade. Desde que a prova de 50 km saiu do programa, a distância de 35 km virou o novo desafio de resistência da marcha. Alternar entre 20 km, que pede mais velocidade, e 35 km, que exige tolerância ao desgaste por mais tempo, revela uma preparação completa, calibrada no detalhe.

Para quem acompanha a modalidade de perto, alguns pontos são chave. A técnica da marcha — manter contato constante com o solo e a perna estendida na passagem pelo apoio — é fiscalizada por juízes ao longo de todo o percurso. Três cartões por infração significam desclassificação. Equilibrar agressividade com limpeza técnica, especialmente sob pressão e cansaço, separa medalhistas de meros participantes. Em Tóquio, Caio andou no fio da navalha com a segurança de quem domina o ofício.

No contexto do atletismo brasileiro, a medalha vale ainda mais. O país já tinha campeões mundiais em provas de pista e campo em outras especialidades, mas a marcha ainda perseguia um ouro ao ar livre. Com esse título, Caio entra para um grupo seleto de brasileiros que chegaram ao topo no Mundial, além de reforçar a identidade de uma modalidade que encontrou no país uma base de formação sólida e, agora, um símbolo definitivo de excelência.

Também importa o que vem depois. Um ouro mundial muda prioridades, mexe com patrocínios, fortalece projetos regionais e inspira a garotada que treina em pistas simples e ruas de bairro. A imagem do novo campeão, emocionado ao cruzar a linha, tem efeito prático: vira referência. Técnicos, clubes e federações passam a ter um caso claro para mostrar que vale a pena investir na marcha — e que o caminho do alto rendimento é possível fora dos holofotes mais óbvios do atletismo.

O Mundial de Tóquio se aproxima do fim com a sensação de que o Brasil encontrou em Caio Bonfim um líder competitivo e resiliente. Ele deixa a capital japonesa com mais do que metal no peito: sai com a autoridade esportiva de quem aprendeu a vencer provas grandes nos minutos decisivos. E isso, em campeonatos que costumam ser decididos por detalhes, faz toda a diferença.

Detalhes da campanha brasileira e o significado do resultado

Detalhes da campanha brasileira e o significado do resultado

Abaixo, os principais resultados do Brasil nas provas de 20 km de marcha em Tóquio:

  • 20 km masculino: Caio Bonfim — ouro (1h18min35s)
  • 20 km masculino: Matheus Corrêa — 17º (1h21min04s)
  • 20 km masculino: Max Batista — 42º (1h27min34s)
  • 20 km feminino: Viviane Lyra — 12º (1h29min02s)
  • 20 km feminino: Gabriele Muniz — 32º (1h34min28s)
  • 20 km feminino: Érica Sena — desistência no km 3

Para Caio, a soma é poderosa: bronze em 2017, bronze em 2023, prata nos 35 km em 2025 e, agora, o ouro nos 20 km. É uma sequência que sustenta uma carreira sem atalhos. O ouro de Tóquio não é um raio em céu azul; é o ponto alto de um processo longo, com planejamento, acertos e recomeços. E, olhando para frente, a régua está ainda mais alta — exatamente onde um campeão gosta que ela esteja.