Ciclone extratropical atinge Sul e Sudeste do Brasil com ventos de 100 km/h e chuva intensa em 10 de dezembro
Um ciclone extratropical de intensidade rara se formou próximo à costa de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, desencadeando uma onda de clima extremo que atingiu o Sul e o Sudeste do Brasil na quarta-feira, 10 de dezembro de 2025. Ventos de até 100 km/h sacudiram áreas elevadas da Serra do Mar, chuvas torrenciais caíram em cidades como Belo Horizonte e Porto Alegre, e o mar ficou agitado em todo o litoral catarinense. O sistema, que começou a se intensificar na terça-feira, 9 de dezembro, segundo relatos do G1 Globo, não foi apenas mais uma tempestade de inverno — foi um fenômeno que reescreveu os alertas meteorológicos da temporada.
As regiões mais afetadas e os dados mais alarmantes
O Defesa Civil de Santa Catarina emitiu alerta de risco MODERADO a ALTO para ventos, enchentes e queda de árvores. Na Serra do Sul e na costa meridional, rajadas superaram 100 km/h — o suficiente para derrubar postes, deslocar telhados e interromper o fornecimento de energia em mais de 87 mil residências, segundo dados da CEEE. Em Florianópolis, o vento fez com que contêineres fossem lançados contra fachadas de prédios no bairro de Jurerê. Já em Belo Horizonte, a chuva acumulada chegou a 50 mm em menos de 12 horas, o que levou o sistema de drenagem a transbordar em bairros como Funcionários e Lourdes. A Epagri/Ciram confirmou que a umidade veio de um canal contínuo que se estendia da Amazônia até Minas Gerais, alimentado por correntes quentes do Atlântico Sul.
Em Espírito Santo, o Incaper registrou temperaturas máximas de 36°C em áreas baixas, mas com chuvas intensas no interior, especialmente perto de Caparaó. Em Vitória, o céu oscilou entre sol e nuvens pesadas, com 29°C de máxima e 23°C de mínima — um contraste gritante com o frio que atingiu 8°C nas montanhas de Santa Catarina na manhã do dia 10. O Jornal da Gazeta destacou que o sistema também atingiu São Paulo com 6 mm de chuva, mas a atenção foi para os ventos: rajadas de 80 km/h foram registradas em Santos e no litoral norte, o que gerou alagamentos em vias como a SP-55.
Por que este ciclone foi diferente?
Normalmente, ciclones extratropicais no Sul do Brasil ocorrem entre maio e setembro. Dezembro é mês de verão, quando o clima é dominado por massas quentes e instabilidade térmica, não por sistemas frontais profundos. Mas este, segundo o meteorologista Fernanda Azevedo, do Jornal da Gazeta, "foi um caso de superposição": uma frente fria muito forte encontrou uma massa de ar quente e úmida vinda da Amazônia, criando uma bomba meteorológica. É como se a temperatura da superfície do mar estivesse 3°C acima da média — algo que só vimos em anos de El Niño extremo."
Essa combinação fez com que o ciclone se movesse mais lentamente do que o normal, permanecendo sobre o litoral catarinense por mais de 48 horas. Isso explica por que a chuva foi tão concentrada. Em Florianópolis, o volume de água acumulado foi o maior registrado em dezembro desde 2008. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) confirmou que 120 mm caíram em apenas 24 horas em algumas áreas da Grande Florianópolis — o equivalente a quase 40% da média mensal.
Reações e impactos na vida real
As escolas em 18 municípios de Santa Catarina foram fechadas na quarta-feira. Em Porto Alegre, o aeroporto Internacional Salgado Filho teve 27 voos cancelados e 42 atrasados. O Corpo de Bombeiros registrou mais de 230 ocorrências em 24 horas — metade delas relacionadas a quedas de árvores e alagamentos. Um prédio de quatro andares em Joinville teve parte da fachada arrancada pelo vento, mas, milagrosamente, ninguém ficou ferido.
Na agricultura, os danos foram devastadores. Em Campos Novos, no oeste catarinense, cerca de 40% da lavoura de soja já plantada foi perdida por encharcamento. A Epagri/Ciram estima perdas de R$ 2,3 milhões apenas na região do Meio-Oeste. Já em Minas Gerais, produtores de café em Montes Claros relataram que a chuva interrompeu a colheita, e o solo, já saturado, não absorve mais água — o que pode gerar erosão nas próximas semanas.
O que vem a seguir?
Na quinta-feira, 11 de dezembro, o ciclone já se afastava para o oceano, e o tempo começou a melhorar no Sul. Mas o Sudeste ainda enfrentou instabilidade. Em Brasília, as temperaturas, que estavam 0,6°C abaixo da média histórica, voltaram a subir, mas com chuvas isoladas. Já em Curitiba, a quarta-feira foi a mais fria do ano até então — 12°C de mínima — e o frio persistiu até a manhã de sexta.
A sexta-feira, 12 de dezembro, trouxe nova instabilidade, mas agora concentrada no oeste de Santa Catarina. Choveu em áreas como Chapecó e Xanxerê, mas o vento enfraqueceu. O que fica é uma lição: o clima extremo não é mais um fenômeno raro. Em 2023, o Sul teve 11 eventos climáticos severos. Em 2025, já são 14 — e dezembro ainda não acabou.
Por que isso importa para você?
Este ciclone não foi um acidente isolado. É parte de um padrão crescente de eventos climáticos extremos no Brasil, ligados ao aquecimento global e à mudança nos padrões de umidade da Amazônia. Quando o ar quente da floresta encontra frentes frias mais intensas — como aconteceu neste caso —, os resultados são imprevisíveis e perigosos. E não é só o Sul que sofre. O mesmo canal de umidade que alimentou este ciclone também provocou enchentes no Tocantins e em Rondônia. Isso significa que, em um país tão vasto, um fenômeno local pode ter efeitos nacionais.
Frequently Asked Questions
Como este ciclone se compara aos eventos anteriores no Sul do Brasil?
Este foi o ciclone extratropical mais intenso de dezembro desde 2008, com ventos mais fortes e chuva mais concentrada do que os registrados nos últimos 15 anos. Em 2020, um ciclone similar atingiu Santa Catarina, mas os ventos máximos foram de 85 km/h e a chuva acumulada foi de 70 mm. Já neste evento, os ventos chegaram a 100 km/h e em alguns pontos a chuva superou 120 mm em 24 horas — um recorde para o mês.
Quais cidades estão em maior risco nos próximos dias?
Ainda que o ciclone tenha se afastado, áreas como o oeste de Santa Catarina, o norte de Minas Gerais e o sul de Goiás permanecem em alerta por chuvas isoladas até domingo. A região de Chapecó e Montes Claros tem risco moderado de alagamentos, especialmente onde o solo já está saturado. A Defesa Civil recomenda evitar áreas de encosta e vales estreitos.
Por que o vento foi tão forte nas montanhas?
As montanhas atuam como barreiras naturais que aceleram os ventos. Quando uma massa de ar é forçada a subir por uma serra, ela ganha velocidade — um fenômeno chamado de "efeito de canalização". Em locais como a Serra do Mar em Santa Catarina, onde as elevações chegam a 1.200 metros, isso amplifica as rajadas. Foi por isso que ventos de 100 km/h foram registrados em cidades como Lages e Urubici — mesmo onde o vento no nível do mar era de apenas 60 km/h.
O que as autoridades estão fazendo para evitar novos desastres?
A Defesa Civil de Santa Catarina já iniciou inspeções em 157 áreas de risco, com foco em encostas e favelas urbanas. Em Minas Gerais, o governo estadual liberou R$ 15 milhões para reparos em infraestrutura e alertou 83 municípios sobre o risco de deslizamentos. Já em São Paulo, a CET está monitorando 32 pontos críticos de alagamento. Mas especialistas apontam que a falta de investimento em drenagem urbana desde 2018 continua sendo o maior problema.
Há previsão de mais ciclones como este em 2025?
Sim. O INMET prevê que até o fim do ano, pelo menos três sistemas semelhantes podem se formar, especialmente entre dezembro e fevereiro. A temperatura da superfície do mar no Atlântico Sul está 1,8°C acima da média, e o fenômeno La Niña, que estava em fase fraca, está voltando. Isso cria um cenário propício para ciclones extratropicais mais fortes e frequentes — algo que o Brasil ainda não está preparado para enfrentar em larga escala.
Como posso me proteger se outro ciclone vier?
Mantenha um kit de emergência com água, comida não perecível, lanterna e pilhas. Evite áreas próximas a rios, encostas e árvores grandes. Fique atento aos alertas da Defesa Civil por SMS ou aplicativos oficiais. Se o vento passar de 70 km/h, fique dentro de casa, longe de janelas. E nunca tente atravessar ruas alagadas — mesmo que pareçam rasas. Um metro de água já é suficiente para arrastar um carro.