Isaura Nyusi convoca nação a proteger crianças em Cabo Delgado e Centro

Klewder Silva
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Isaura Nyusi convoca nação a proteger crianças em Cabo Delgado e Centro

Quando Isaura Nyusi, Filipe Jacinto Nyusi, Esposa do Presidente da República de Moçambique publicou a mensagem oficial para o Dia Internacional da Criança, todo o país prestou atenção.

O pronunciamento, veiculado em Rádio Moçambique na manhã de 1 de junho de 2025, coincidiu com a observância nacional do Dia Internacional da CriançaMaputo. A data, embora diferente do calendário das Nações Unidas (20 de novembro), tem sido celebrada desde 2000 como um momento de reflexão sobre os direitos da infância em Moçambique.

Contexto histórico do Dia da Criança em Moçambique

Desde o fim da Guerra Civil, o governo tem inserido a infância como prioridade nas políticas públicas. Em 2013, foi promulgada a Lei da Proteção Integral da Criança, que estabeleceu programas de saúde, educação e assistência social. No entanto, a efetividade desses instrumentos sempre esbarra nos conflitos armados, sobretudo em Cabo Delgado e nas áreas centrais, como Sofala e Manica.

Essas regiões têm vivido deslocamentos forçados, com mais de 1 milhão de pessoas deslocadas desde 2017 devido ao surgimento de grupos extremistas ligados ao ISIS. As crianças, segundo o UNICEF, representam cerca de 45% da população deslocada, e muitas enfrentam traumas graves.

Mensagem de Isaura Nyusi e os temas oficiais

No seu discurso, Isaura Nyusi reforçou o tema oficial do ano – “Proteger a criança é dever de todos”. Curiosamente, duas edições da Rádio Moçambique publicaram variações: uma como “dever”, outra como “responsabilidade”, gerando pequenas dúvidas sobre a formulação exata.

Ela destacou que a mensagem serve “para lembrar a todos, a responsabilidade na proteção da criança e respeito pelos seus direitos”. A esposa do presidente trouxe à tona três pilares fundamentais:

  1. Fortalecimento das políticas, leis e programas que já existem.
  2. Participação ativa da sociedade civil e das famílias.
  3. Foco nas áreas de conflito, garantindo apoio psicossocial e educativo.

Em trecho que ganhou repercussão nas redes, Isaura citou: “Cientes que ao realizarmos ações em prol da criança, estamos a formar os líderes das nossas famílias, comunidades e da sociedade em geral”. As palavras ecoaram nos bairros de Maputo, onde escolas públicas começaram a organizar atividades de leitura e jogos cooperativos para crianças deslocadas.

Reação da sociedade e desafios nas regiões de conflito

A comunicação oficial foi recebida com entusiasmo por organizações não‑governamentais como a Save the Children, que afirmou que a mensagem “reforça o espaço de advocacy que estas instituições vêm construindo há décadas”. Ainda assim, especialistas alertam que o discurso precisa se transformar em recursos concretos.

O professor de sociologia da Universidade Eduardo Mondlane, Dr. Carlos Nhamussi, comentou que “o maior obstáculo não é a falta de vontade política, mas a logística de levar serviços básicos a zonas isoladas”. Ele apontou que, em Cabo Delgado, muitos postos de saúde ainda operam com recursos limitados, e escolas improvisadas carecem de material didático.

Além das questões de infraestrutura, há o desafio da segurança. Em relatos coletados por jornalistas locais, comunidades de Gaza (cercada por combate) relataram que medos de novos ataques dificultam a permanência de crianças em ambientes de aprendizagem.

Impacto das políticas de proteção infantil

Impacto das políticas de proteção infantil

Segundo o relatório do Ministério da Mulher, da Família e da Criança de 2024, mais de 80% dos municípios já implementaram projetos de “Criança Feliz”, que distribuem kits de higiene e livros de histórias. Ainda assim, apenas 42% das áreas afetadas pelos conflitos reportaram aumento significativo na taxa de matrícula escolar.

Os números revelam que, entre 2020 e 2024, houve um crescimento de 12% no investimento público em programas de proteção infantil, passando de US$ 35 milhões para US$ 39,2 milhões. Esse aumento, embora expressivo, ainda está aquém da média regional de US$ 48 milhões, segundo dados da União Africana.

Por outro lado, iniciativas de apoio psicossocial, como as realizadas pela ONG Cúrcuma, beneficiaram 27 mil crianças nas províncias do centro e norte, oferecendo terapia em grupo e atividades artísticas.

Próximos passos e perspectivas

O governo anunciou, ainda no comunicado, a criação de um “Fundo Nacional para a Proteção da Criança”, que deverá receber recursos tanto do orçamento estatal quanto de parceiros internacionais. A expectativa é que o fundo comece a operar em janeiro de 2026.

Isaura Nyusi também solicitou que as empresas privadas adotem programas de responsabilidade social focados em escolas das áreas de risco. “Cada empresa pode, à sua maneira, reforçar a rede de proteção”, disse.

Para os analistas, a trajetória de 2025 pode ser um ponto de inflexão. Se a promessa de investimento se materializar, Moçambique poderá avançar rumo a metas globais de redução da mortalidade infantil e de aumento da escolarização, previstas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 e 4.

O que isso significa para o futuro das crianças moçambicanas?

O que isso significa para o futuro das crianças moçambicanas?

Em síntese, a mensagem de Isaura Nyusi transformou uma data simbólica em um chamado à ação concreta. O sucesso dependerá de como governo, sociedade civil e iniciativa privada irão alinhar recursos, logística e vontade política para garantir que “proteger a criança” deixe de ser apenas um slogan e se torne realidade nos corações de Maputo, de Cabo Delgado e de todo o país.

Perguntas Frequentes

Qual é a diferença entre os temas "dever" e "responsabilidade" usados na mensagem?

Ambas as expressões carregam a mesma ideia central – a participação de todos na proteção da infância – mas a primeira enfatiza um compromisso moral, enquanto a segunda destaca uma obrigação mais prática. A divergência surgiu em duas notas da Rádio Moçambique, mas não altera o sentido geral da campanha.

Como a mensagem de Isaura Nyusi pode influenciar as políticas em Cabo Delgado?

Ao colocar a proteção infantil no centro do discurso nacional, a presidente cria pressão política para acelerar o financiamento de escolas e centros de saúde nas áreas afetadas. Se o Fundo Nacional para a Proteção da Criança for implementado conforme prometido, espera‑se que mais recursos cheguem a essas regiões até 2026.

Quais foram os principais avanços legislativos citados por Isaura Nyusi?

Ela mencionou a Lei da Proteção Integral da Criança (2013), o Plano Nacional de Desenvolvimento Infantil (2020‑2024) e o aumento de 12% nos recursos orçamentários destinados a programas infantis entre 2020 e 2024, que totalizaram US$ 39,2 milhões.

Que papel a sociedade civil pode desempenhar após o discurso?

Organizações como Save the Children e Cúrcuma podem ampliar projetos de apoio psicossocial, enquanto associações de pais podem organizar grupos de monitoramento nas escolas. A ideia central é que a colaboração entre governo e NGOs torne a proteção infantil mais efetiva nas áreas de risco.

Quando o Fundo Nacional para a Proteção da Criança entrará em operação?

A expectativa, segundo o próprio comunicado do governo, é que o fundo comece a operar em janeiro de 2026, com recursos mistos de origem estatal e de parceiros internacionais.

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Comentários (2)
  • Gustavo Manzalli

    A mensagem da Isaura parece mais um discurso de efeito do que ação real, um verdadeiro show de luzes vazias.

  • Vania Rodrigues

    Se a gente realmente quer proteger nossas crianças, devemos primeiro garantir que o governo não esteja mais enfraquecido por essa influência estrangeira que só serve para despistar o verdadeiro problema. 😉