
A corretora norte‑americana Needham acabou de publicar um parecer que pode mudar a estratégia de mídia da Disney. Segundo o analista, a empresa deveria encerrar definitivamente as operações da ABC – sua rede de televisão aberta nos EUA – e transferir todo o acervo para serviços de streaming. A ideia surge num momento em que a emissora enfrenta forte reação de anunciantes e afiliados após a controvérsia envolvendo o apresentador Jimmy Kimmel.
Contexto da polêmica e reação dos grupos de mídia
A crise começou quando Kimmel, do programa "Jimmy Kimmel Live", fez uma sátira sobre a resposta do presidente Donald Trump a perguntas sobre o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk. Trump havia afirmado estar lidando com a situação "muito bem" antes de mudar de assunto para a construção de um salão de baile na Casa Branca. Kimmel criticou a postura do presidente, alegando que o "bando MAGA" tentava deslegitimar o agressor de Kirk.
O trecho gerou indignação em setores conservadores e, rapidamente, duas das maiores corporações de transmissão do país – Nexstar e Sinclair – decidiram retirar o programa de suas grades. Ambas exigiram um pedido de desculpas público de Kimmel e uma doação à organização de Kirk, a Turning Point USA, como condição para retomar a exibição.
Além da pressão dos grupos de mídia, a controvérsia chegou ao Federal Communications Commission (FCC). O presidente da agência, Brendan Carr, indicou que a emissora poderia ser alvo de investigação por suposta violação das normas de conduta na radiodifusão. A combinação de boicotes, exigências financeiras e risco regulatório colocou a ABC em uma posição delicada.

Recomendações da corretora e possíveis impactos
É nesse cenário que a Needham apresenta sua proposta. O relatório aponta que o mercado de televisão tradicional está cada vez mais volátil, com receitas de publicidade em queda e custos de produção elevados. Por outro lado, os serviços de streaming apresentam crescimento consistente, maior controle sobre a distribuição de conteúdo e oportunidades de monetização direta ao consumidor.
Para a Disney, que já detém plataformas como Disney+, Hulu e ESPN+, fechar a ABC poderia significar a eliminação de um canal de perdas e a concentração de esforços em um modelo digital mais escalável. A corretora destaca ainda que o rebaixamento da rede poderia melhorar indicadores financeiros, como margem EBITDA, e agradar investidores que buscam adaptação às novas dinâmicas de consumo.
Entretanto, a proposta traz questionamentos sobre o futuro da produção de conteúdos locais e o impacto em milhares de empregos ligados à transmissão linear. A ABC é responsável por noticiários regionais, novelas e esportes ao vivo que ainda atraem uma audiência considerável, sobretudo em áreas onde a internet de alta velocidade é limitada.
Especialistas do setor apontam que uma transição completa exigiria investimento pesado em infraestrutura de streaming, renegociação de contratos com anunciantes e um plano robusto para migrar o público tradicional para o ambiente digital. Além disso, há o risco de perder a presença da marca em canais gratuitos, que ainda desempenham papel importante na construção de lealdade ao público.
Enquanto a Disney avalia a recomendação da Needham, a controvérsia de Kimmel continua a reverberar nas redes sociais e nas discussões sobre liberdade de expressão na mídia. A decisão da empresa pode se tornar um marco na forma como grandes conglomerados encaram a coexistência – ou a substituição – da TV tradicional por serviços de streaming, redefinindo o panorama de conteúdo nos próximos anos.
