Egito deporta mais de 200 ativistas antes de marcha humanitária à Faixa de Gaza

Klewder Silva
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Egito deporta mais de 200 ativistas antes de marcha humanitária à Faixa de Gaza

Egito fecha cerco contra marcha global por Gaza e desencadeia onda de deportações

O que era para ser uma grande ação internacional por direitos humanos se transformou em um embate diplomático: mais de 200 ativistas vindos de 80 países foram detidos ou deportados pelo governo egípcio ao tentarem chegar perto da Faixa de Gaza. O grupo aterrissou em solo egípcio disposto a caminhar cerca de 50 quilômetros, partindo da cidade de Arish até o terminal fronteiriço de Rafah, com o objetivo de pressionar as autoridades a permitirem o acesso de ajuda humanitária ao enclave palestino, bloqueado por Israel há anos.

Quem tentava desembarcar no aeroporto internacional do Cairo sem passagem de volta encontrada teve o embarque imediatamente negado. Os passageiros, em sua maioria ativistas europeus, foram redirecionados para voos em direção a Istambul. Entidades organizadoras afirmam que tentaram diálogo prévio com embaixadas egípcias, mas esbarraram em critérios cambiantes e detenções sem explicações claras. Nas estradas rumo ao Sinai, viaturas policiais paravam veículos suspeitos, e estrangeiros eram obrigados a descer para detenção temporária ou deportação.

Segurança, pressão internacional e acusações de colaboração

Segurança, pressão internacional e acusações de colaboração

O Egito justificou a operação dizendo que entradas sem autorização ou sem protocolos de segurança não seriam tolerados, especialmente em uma área tão sensível quanto a fronteira de Rafah. O ministro da Defesa de Israel tratou o protesto como possível ameaça à estabilidade regional e ordenou que militares bloqueassem qualquer tentativa de aproximação de manifestantes pelo lado palestino.

A França chegou a intervir diretamente, disponibilizando apoio consular a seus cidadãos detidos – sinal que a situação ganhou tom de crise entre governos europeus e egípcio. Outros países também recorreram à diplomacia, pressionando pela liberação dos ativistas. Os organizadores denunciam que o Egito estaria se rendendo à pressão israelense e agindo como extensão do bloqueio, ao invés de garantir passagem segura para o corredor humanitário.

Nos bastidores, cresce a tensão entre agendas humanitárias e prioridades de segurança. Depois de meses de articulação, a marcha global para Gaza foi duramente freada, reacendendo críticas sobre o papel do Egito na crise e a dificuldade que grupos internacionais encontram para protestar em regiões monitoradas de perto por interesses militares e geopolíticos. O episódio coloca em xeque até onde o discurso de defesa de fronteiras pode atropelar demandas por socorro a populações sob bloqueio e bombardeios.